O papel dos testes rápidos na saúde de pets idosos: como identificar problemas antes que eles se agravem

O papel dos testes rápidos na saúde de pets idosos: como identificar problemas antes que eles se agravem

Cuidar de um pet idoso é uma tarefa que exige atenção e carinho redobrados. Assim como nós, os animais envelhecem e ficam mais propensos a desenvolver doenças crônicas. Diagnosticar esses problemas precocemente é essencial para oferecer qualidade de vida e evitar complicações graves. 

Os testes rápidos estão se tornando aliados poderosos. Com tecnologias acessíveis e precisas, eles ajudam tutores e veterinários a identificar sinais de alerta antes que os sintomas se agravem. Aqui, vamos abordar o papel desses testes no cuidado de pets idosos e como eles podem transformar a saúde animal. 

Por que os pets idosos precisam de cuidados especiais? 

Os animais de estimação envelhecem mais rapidamente que os humanos. Dependendo da espécie e raça, um pet pode ser considerado idoso a partir dos 7 anos de idade. Com o avanço da idade, o corpo passa por mudanças que afetam a saúde, como: 

  • Diminuição da capacidade renal. 
  • Alterações no metabolismo da glicose. 
  • Desgaste das articulações e músculos. 

Essas mudanças aumentam o risco de doenças crônicas, como insuficiência renal, diabetes e artrite. No entanto, muitos desses problemas podem ser tratados, especialmente quando detectados precocemente. 

O que são testes rápidos para pets? 

Os testes rápidos são ferramentas diagnósticas que fornecem resultados em minutos. Eles detectam marcadores de doenças no sangue, urina ou saliva do animal, auxiliando o veterinário na tomada de decisão rápida. 

Ao contrário de exames laboratoriais que podem demorar dias, os testes rápidos permitem intervenções imediatas, muitas vezes no mesmo momento da consulta. 

 Doenças comuns em pets idosos e como os testes rápidos ajudam 

  1. Insuficiência renal

A insuficiência renal é uma das principais causas de mortalidade em cães e gatos idosos. Ela ocorre quando os rins não conseguem filtrar as toxinas do organismo de forma eficiente. 

Sinais de alerta: 

  • Aumento da sede. 
  • Perda de apetite. 
  • Urina mais frequente ou em menor volume. 

Como os testes rápidos ajudam:
Testes de creatinina e ureia podem detectar alterações nos rins em estágio inicial. Isso permite ajustar a dieta do pet e iniciar tratamentos antes que o quadro se torne irreversível. 

  1. Diabetes

Assim como em humanos, a diabetes é comum em pets idosos, especialmente em gatos obesos e cães de raças predispostas. 

Sinais de alerta: 

  • Sede excessiva. 
  • Perda de peso repentina. 
  • Urinar em locais incomuns. 

Como os testes rápidos ajudam:
Testes de glicemia realizados no consultório identificam níveis elevados de açúcar no sangue. Com isso, o veterinário pode recomendar mudanças alimentares e, se necessário, o uso de insulina. 

  1. Artrite

A artrite é uma condição dolorosa que afeta as articulações, reduzindo a mobilidade e o bem-estar do pet. 

Sinais de alerta: 

  • Dificuldade para subir escadas ou caminhar. 
  • Rigidez ao se levantar. 
  • Redução na vontade de brincar. 

Como os testes rápidos ajudam:
Testes que detectam marcadores inflamatórios indicam se há inflamação nas articulações. Isso permite iniciar terapias com medicamentos ou suplementos antes que o animal sofra limitações severas. 

 Benefícios dos testes rápidos no cuidado de pets idosos 

Os testes rápidos oferecem vantagens que tornam o diagnóstico precoce mais acessível e eficiente. Entre os principais benefícios estão: 

  • Rapidez nos resultados: o diagnóstico pode ser feito na própria consulta, sem a necessidade de espera. 
  • Menos estresse para o pet: por serem simples e rápidos, esses testes reduzem o desconforto e a ansiedade dos animais. 
  • Prevenção de complicações: identificar doenças no início aumenta as chances de sucesso no tratamento. 
  • Redução de custos: tratar doenças precocemente é mais econômico do que lidar com complicações avançadas. 

 Como monitorar a saúde de pets idosos regularmente? 

Além dos testes rápidos, é importante adotar uma rotina de cuidados preventivos. Aqui estão algumas dicas para manter o bem-estar do seu pet idoso: 

  1. Consultas regulares ao veterinário: o ideal é levar seu pet para um check-up a cada seis meses. 
  1. Dieta adequada: alimentos específicos para pets idosos ajudam a prevenir problemas de saúde. 
  1. Atividade física moderada: exercícios leves mantêm as articulações saudáveis e evitam o ganho de peso. 
  1. Monitoramento em casa: fique atento a mudanças de comportamento, apetite e hábitos do pet. 

 O futuro dos testes rápidos na saúde veterinária 

A tecnologia continua avançando, e os testes rápidos estão se tornando cada vez mais acessíveis e precisos. No futuro, podemos esperar: 

  • Integração com dispositivos móveis: resultados de testes poderão ser enviados diretamente para aplicativos, facilitando o monitoramento. 
  • Automação: equipamentos modernos reduzirão ainda mais o tempo necessário para análises. 
  • Maior diversidade de doenças testadas: novos marcadores permitirão diagnosticar uma gama ainda maior de condições em pets. 

 Diagnósticos rápidos, vidas mais longas 

Os testes rápidos estão transformando a saúde de pets idosos. Com eles, é possível identificar problemas como insuficiência renal, diabetes e artrite antes que se agravem, garantindo mais qualidade de vida aos nossos amigos de quatro patas. 

Cuidar de um pet idoso é um ato de amor. Com a ajuda da tecnologia e da atenção dos tutores, esses animais podem envelhecer com saúde e conforto.

Referencia:
– Blog da Celer

A ciência por trás dos testes rápidos: como eles são desenvolvidos e validados

A ciência por trás dos testes rápidos: como eles são desenvolvidos e validados

Nos últimos anos, os testes rápidos revolucionaram o setor da saúde ao oferecer diagnósticos ágeis e acessíveis, permitindo decisões médicas mais eficazes e oportunas. Com a crescente necessidade de diagnósticos rápidos e precisos, esses dispositivos ganharam destaque em diferentes contextos clínicos, desde emergências hospitalares até triagens comunitárias e atendimento domiciliar.

Mas como esses testes são desenvolvidos e validados antes de serem comercializados? O processo envolve alta tecnologia, rigorosos protocolos científicos e aprovação de órgãos reguladores. Este artigo traz os princípios científicos, as etapas de desenvolvimento e os métodos de validação dos testes rápidos, garantindo que eles ofereçam resultados confiáveis para a prática clínica.

Os fundamentos científicos dos testes rápidos

Os testes rápidos utilizam princípios bioquímicos e imunológicos para detectar substâncias específicas em amostras biológicas, como sangue, urina e saliva. A precisão desses dispositivos depende de técnicas avançadas de reconhecimento molecular, que garantem a detecção seletiva de biomarcadores clínicos. 

Imunocromatografia de fluxo lateral 

imunocromatografia de fluxo lateral é a tecnologia mais utilizada nos testes rápidos. Essa técnica permite a detecção de antígenos ou anticorpos com alta sensibilidade e especificidade. Seu funcionamento segue os seguintes passos: 

– A amostra biológica é aplicada em um substrato poroso que contém partículas conjugadas com anticorpos específicos. 

– Caso o biomarcador-alvo esteja presente, ele se liga ao anticorpo conjugado, formando um complexo. 

– Esse complexo migra por capilaridade até a zona de detecção, onde interage com outro anticorpo imobilizado, gerando um sinal visual (linha colorida). 

Essa metodologia é amplamente utilizada em testes rápidos para doenças infecciosas, como HIV, dengue e COVID-19, pois oferece um diagnóstico rápido e confiável sem a necessidade de equipamentos sofisticados. 

Reações enzimáticas e colorimétricas 

Os testes baseados em reações enzimáticas utilizam catalisadores biológicos para converter um substrato específico em um produto detectável visualmente. Essa tecnologia é empregada em testes como: 

– Glicemia capilar – onde a glicose reage com a glicose-oxidase, produzindo uma coloração proporcional à sua concentração. 

– Testes bioquímicos rápidos – que utilizam enzimas específicas para detectar substâncias como ureia e creatinina. 

Essas reações são fundamentais para a obtenção de resultados quantitativos rápidos em ambientes clínicos e laboratoriais. 

Amplificação molecular rápida 

Com o avanço da biotecnologia, técnicas de amplificação molecular rápida têm sido incorporadas aos testes rápidos para aumentar a sensibilidade diagnóstica. Métodos como LAMP (Loop-mediated Isothermal Amplification) permitem a amplificação de DNA ou RNA em temperatura constante, sem a necessidade de termocicladores complexos, como os utilizados na PCR tradicional. 

Essa abordagem tem sido essencial para o diagnóstico de doenças infecciosas, especialmente na detecção de vírus como SARS-CoV-2 e Influenza, garantindo rapidez e alta precisão. 

O desenvolvimento dos testes rápidos 

A criação de um teste rápido exige um processo rigoroso de pesquisa, design e validação para garantir sua eficiência e reprodutibilidade. Esse desenvolvimento segue etapas bem definidas.

1. Identificação do biomarcador-alvo

O primeiro passo no desenvolvimento de um teste rápido é a escolha do biomarcador que será detectado. Esse biomarcador deve apresentar: 

– Alta especificidade – ser exclusivo da doença ou condição investigada. 

– Concentração mensurável – estar presente em níveis detectáveis nas amostras biológicas. 

– Estabilidade química – resistir a variações de temperatura e transporte. 

Biomarcadores comuns incluem proteínas virais, enzimas, hormônios e metabólitos específicos.

2.  
Seleção dos reagentes biológicos

Os reagentes utilizados nos testes rápidos, como anticorpos, enzimas e nanopartículas, precisam ser altamente específicos para minimizar reações cruzadas. Os principais desafios nesta etapa incluem: 

– Produção de anticorpos monoclonais – garantindo alta especificidade. 

– Otimização de conjugados de nanopartículas – para aumentar a visibilidade do sinal. 

– Desenvolvimento de substratos estáveis – que não degradem ao longo do tempo.

3. Design do dispositivo e otimização

Após a seleção dos reagentes, o dispositivo precisa ser projetado para garantir funcionalidade e facilidade de uso. Alguns aspectos fundamentais incluem: 

– Tempo de reação ideal – geralmente entre 5 e 20 minutos. 

– Volume da amostra necessário – mínimo possível para maior conveniência. 

– Portabilidade e ergonomia – facilitando o manuseio em diferentes ambientes clínicos. 

Testes piloto são conduzidos para verificar a robustez do design e corrigir possíveis falhas antes da validação clínica. 

Processo de validação e aprovação regulatória 

A validação de um teste rápido é um processo crítico para garantir sua confiabilidade antes de sua introdução no mercado. Esse processo envolve diversas análises laboratoriais e ensaios clínicos rigorosos. 

Testes de precisão e especificidade 

Os ensaios clínicos avaliam o desempenho do teste rápido em comparação com métodos laboratoriais tradicionais. Os principais parâmetros analisados incluem: 

– Sensibilidade diagnóstica – capacidade de identificar corretamente os casos positivos. 

– Especificidade diagnóstica – capacidade de evitar falsos positivos. 

– Reprodutibilidade – consistência dos resultados em diferentes amostras e condições. 

Estabilidade e armazenamento 

Além da precisão, os testes rápidos precisam ser estáveis durante o transporte e armazenamento. Ensaios de estabilidade são realizados para avaliar fatores como: 

– Resistência a variações de temperatura e umidade. 

– Durabilidade dos reagentes ao longo do tempo. 

– Conservação da funcionalidade em diferentes condições ambientais. 

Certificações e aprovação de órgãos reguladores 

Para serem comercializados, os testes rápidos precisam cumprir rigorosos requisitos de certificação estabelecidos por órgãos reguladores internacionais, como: 

– ANVISA (Brasil) – regulamenta dispositivos médicos e in vitro. 

– FDA (EUA) – controla a qualidade de produtos diagnósticos no mercado norte-americano. 

– CE-IVD (Europa) – certificação europeia para dispositivos de diagnóstico in vitro. 

Essas certificações garantem que os testes atendam aos padrões de qualidade e segurança exigidos para seu uso clínico. 

O impacto dos testes rápidos na medicina moderna 

A implementação de testes rápidos trouxe avanços significativos para a medicina diagnóstica, proporcionando benefícios como: 

– Diagnóstico precoce e tratamento imediato – reduzindo complicações e hospitalizações. 

– Descentralização dos exames laboratoriais – permitindo testes em locais remotos. 

– Otimização dos custos de saúde – reduzindo despesas hospitalares e laboratoriais. 

Além disso, os testes rápidos desempenham um papel essencial no monitoramento epidemiológico e na prevenção de surtos de doenças infecciosas. 

Pesquisa rigorosa, validação laboratorial e certificação regulatória 

Os testes rápidos representam um marco na evolução do diagnóstico clínico, combinando avanços em biotecnologia e engenharia para oferecer soluções ágeis e precisas. O processo de desenvolvimento desses dispositivos envolve rigorosa pesquisa científica, validação laboratorial e certificação regulatória, garantindo sua confiabilidade para uso clínico. 

Com a crescente necessidade de diagnósticos rápidos e eficientes, a tecnologia dos testes rápidos continuará a desempenhar um papel crucial na medicina moderna. 

Referência:
– Blog da Celer

Importância dos Testes Rápidos para Covid-19 na atenção primária à saúde

Importância dos Testes Rápidos para Covid-19 na atenção primária à saúde

O COVID-19 é uma doença respiratória causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). O período de incubação varia de 2 a 14 dias, sendo de 5 dias em média. Os sintomas surgem após esse período e geralmente persistem por 5 a 7 dias. Após sete dias, começa o período de maior transmissibilidade, isto é, quando é maior o risco das pessoas passarem o vírus a outras pessoas.

Os principais sintomas da doença incluem febre, tosse e dificuldade respiratória. O quadro clínico nos pacientes mais graves assemelha-se mais a um quadro de pneumonia do que a uma gripe. Durante a epidemia, quando se tem transmissão comunitária do vírus, a identificação rápida dos pacientes com quadro de síndrome gripal, na atenção primária à saúde, e posterior isolamento, são medidas importantes para conter a disseminação.

Casos mais graves devem ser identificados pelo médico, estabilizados e encaminhados para centros de referência. Os exames diagnósticos, incluindo os testes rápidos, podem desempenhar um papel fundamental no processo de triagem e diagnóstico, em que pacientes infectados com coronavírus e diversas outras infecções respiratórias virais, podem se presentar concomitantemente, apresentando quadro semelhante de síndrome gripal.

O processo imunológico de resposta ao coronavírus

Para entender a diferença entre os diversos testes disponíveis, é preciso compreender a história natural da COVID-19, observando a resposta imunológica (Figura 1). Após infecção pelo vírus, a carga viral no organismo aumenta rapidamente em poucos dias. Mas o paciente pode permanecer assintomático, pois ainda está no período de incubação. O vírus permanece incubado durante dias.

Após 2 a 14 dias de incubação, surgem os primeiros sintomas, como febre alta (acima de 37, 8 graus) e tosse seca. Esses sintomas duram em torno de 1 semana e o maior risco de complicações respiratórias, como pneumonia, ocorre entre 8 a 9 dias. A partir desse período, o organismo inicia a produção de anticorpos, a fim de combater e, na maioria dos casos, vencer a infecção. A concentração sanguínea de IgG e IgM cresce rapidamente a partir de 8 a 9 dias da infecção.

Teste rápido para detecção de anticorpos

Testes rápidos que detectam a presença de IgG e IgM não são adequados para a fase aguda da doença, pois é alta a probabilidade
de falso negativo. Segundo alguns estudos, a eficácia de 100% se dá somente a partir de 10 dias da provável infecção. Com 7 dias, a sensibilidade é de até 80%. Antes disso, o paciente com COVID-19 ainda não produz anticorpos e o teste rápido pode apresentar um resultado negativo para
IgM ou IgG, levando o paciente a retornar para sua residência com alto risco de disseminação. Portanto, para termos segurança diante de um resultado “Negativo”, os testes rápidos de IgG e IgM são adequados somente a partir de 9/10 dias da provável infecção. Importante lembrar que as especificidades destes testes são muito altas, com poucas chances de reação cruzada com outras doenças respiratórias.

A grande preocupação com os testes sorológicos por imunocromatografia são as informações incompletas que estão circulando, devido ao pânico gerado pela doença. Os fabricantes devem ter responsabilidade e indicar, de maneira clara, a real efetividade (sensibilidade) do uso desses testes sorológicos. Um falso negativo pode ser um grande problema para a própria população. Além disso, as associações de classe, como SBAC e SBPC, devem se posicionar e criar um protocolo de usabilidade de todos os testes rápidos no Brasil, além de uma validação de eficácia em um laboratório de referência, comprovando as informações contidas nas instruções de uso de cada kit.

Diagnóstico rápido para detecção de antígeno (Ag) do Covid-19

O diagnóstico rápido que detecta a presença de antígeno é útil na fase aguda da doença, desafogando as filas nos hospitais e auxiliando nas tomadas de decisões imediatas, como o isolamento do paciente positivo até o recebimento do teste confirmatório. Como forma de screening, o teste para detecção de Ag é uma ferramenta mais útil do que a detecção de IgM e IgG, por ter uma janela de detecção menor (em torno de 5 dias da
infecção), o que é ponto chave no combate de qualquer epidemia.

Importante ressaltar que um resultado positivo no teste rápido de detecção do Ag, indica presença do SARS-CoV-2, mas é necessário ser confirmado em laboratórios de referência, normalmente através da técnica PCR-RT.

Diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias

Testes rápidos para outras doenças respiratórias podem ser úteis para descartar o Covid-19. Doenças como influenza, vírus sincicial
respiratório (RSV), Adenovírus ou mesmo faringite estreptocócica têm sintomas que podem ser confundidos com COVID-19. Assim, o
médico precisa descartar essas condições para um diagnóstico correto. Vale lembrar que com a chegada do inverno no Brasil, a incidência de doenças respiratórias vai aumentar e outros vírus irão circular com maior força.

O mundo ideal, sem dúvidas, seria o uso de painéis multiplex respiratórios (já existentes no mercado) por Biologia Molecular, mas sabemos que, ainda, não é a realidade do Brasil por vários motivos: alto custo, demora no resultado e áreas remotas onde o envio do swab pode comprometer a pesquisa do vírus, dando falso negativo.

Por isso, os testes de pesquisa de antígenos de outras doenças respiratórias, sejam por imunocromatografia, fluorescência ou biologia molecular, devem ser considerados e colocados na linha de frente, também para o combate a COVID-19.

Fonte: Labornews

Segurança e acurácia nos testes rápidos laboratoriais para glicose

Por Cristina Sanches

Os testes laboratoriais remotos (TLRs), também chamados de point-of-care testing (POCT), são uma forma de ampliar o atendimento à população que traz benefícios quando aplicados de forma adequada. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 302/2005 – Regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – define os TLRs como exames realizados por meio de equipamento situado fisicamente fora da área de um laboratório clínico e que devem ser gerenciados por laboratórios de análises clínicas. Especialistas ressaltam que é necessária fiscalização para que a segurança do paciente não seja colocada em risco pela emissão de resultados equivocados que possam impactar o diagnóstico, o monitoramento de doenças e a indicação de tratamento adequado ao paciente.

Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML),  a maior parte dos erros nesse tipo de exame ocorre na fase analítica, daí a necessidade de serem realizados por pessoal treinado, com comprovação de validação metodológica e do uso de controles de qualidade. De acordo com a SBPC/ML, os equipamentos e insumos são, em geral, portáteis e de utilização simples e rápida.

As duas vantagens mais evidentes dos testes laboratoriais remotos são a redução do tempo de tomada de decisão, em virtude da obtenção de um resultado mais rápido; e a possibilidade de levar o teste ao local de atenção do paciente (domicílio, postos de saúde, localidades remotas, veículos paramédicos, locais de desastres e/ou pandemias), possibilitando a realização de exames em populações que não têm acesso a um laboratório clínico e/ou realizar exames laboratoriais.

Existem diversos tipos de testes rápidos disponíveis no mercado, mas um dos mais comuns é o de glicose capilar. “Em especial, os TRLs de glicose auxiliam no rastreio de diabetes (identificando portadores de diabetes nas suas fases precoces e/ou em pacientes assintomáticos), auxiliam os pacientes portadores de diabetes no ajuste das drogas hipoglicemiantes, e no ambiente hospitalar identificam alterações no nível de glicose que necessitam de atenção/correção”, explica Fábio Sodré, presidente regional da SBPC/ML na Bahia.

Para a equipe do Fleury Medicina e Saúde*, uma vantagem importante destes testes está no fato de que, no mesmo momento da consulta, o médico pode ter um resultado em tempo real, bem como avaliar o histórico evolutivo das glicemias realizadas pelo paciente no intervalo das consultas, fato que contribui para agilizar a avaliação médica e garantir maior segurança no seguimento do paciente diabético.

No ambiente hospitalar, a monitorização da glicemia capilar utilizando dispositivos TLR pode ser considerada como parte da avaliação dos sinais vitais, juntamente com a medida da pressão arterial, temperatura, frequência cardíaca e respiratória, sendo também componente vital no cuidado ao paciente crítico em ambientes como terapia intensiva, pronto-socorro e durante procedimentos cirúrgicos, inclusive nos pacientes não diabéticos.

Capacitação e treinamento

O principal desafio no uso dos TLRs, segundo Sodré, está em garantir que seus resultados sejam confiáveis. “Esta garantia passa pelo treinamento dos usuários dos equipamentos, seleção adequada de equipamentos para a finalidade do uso, realização de testes de controle de qualidade, correto registro e comunicação dos resultados.”  Em geral, explica ele, estes testes são realizados pela equipe de enfermagem, que nem sempre tem a expertise sobre os processos analíticos, pré-analíticos e pós-analíticos, logo os treinamentos são necessários.

“É preciso haver todo um processo de educação continuada. Na prática, face à rotatividade do pessoal de enfermagem, é recomendado que no treinamento introdutório da equipe de enfermagem tenha um momento específico para orientar estes profissionais quanto ao correto uso dos glicosímetros. Outros treinamentos devem ser programados no processo de educação continuada. A utilização de um sistema de gerenciamento automatizado, por exemplo, permite identificar os usuários que tenham problemas recorrentes para que possam ser retreinados. É recomendado que periodicamente os usuários sejam retreinados, mesmo aqueles que não apresentem erros detectados pelo sistema de gerenciamento.”

Assim como o programa de treinamento, o processo de coleta e análise do material também é de responsabilidade do laboratório clínico. Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, explica que todas as coletas seguem padrões de gestão e de qualidade, e as análises de resultados seguem as mesmas regras da coleta tradicional. “A análise é realizada no local onde o paciente está, sem necessidade de transporte para o laboratório. Para ter um exemplo da abrangência, existem protocolos de point of care dentro de ambulâncias, mas esse processo é pouco utilizado no Brasil.” A amostra de sangue capilar (para os testes rápidos de glicose) não necessita de preparo pré-analítico, fato que permite o processamento em regiões com infraestrutura elétrica e hidráulica deficientes.

Existem duas maneiras pelas quais o laboratório pode gerenciar o teste: a manual e a automatizada. A primeira, mais trabalhosa e complexa, requer que os dados de rastreabilidade sejam anotados manualmente em planilhas. “Logo, é necessário que sejam elaboradas planilhas para que o usuário faça as anotações dos dados referentes aos materiais utilizados, testes de controle de qualidade e calibração, resultados obtidos e dados do paciente e do operador, além da data e hora da realização do teste”, explica Sodré.

A forma mais segura e rastreável para realizar os testes de glicemia, explica ele, é com a utilização de equipamentos com conectividade a um sistema de gerenciamento do teste. “Neste sistema, é possível cadastrar os usuários habilitados a operar o equipamento, identificar o material utilizado em relação ao seu lote de fabricação, identificar o paciente pela pulseira de código de barras,  garantir a realização e adequação dos testes de controles de qualidade, registrar automaticamente os resultados dos testes do paciente, além de informar os resultados críticos identificados.”

A participação do laboratório para garantir que os testes sejam efetuados da maneira adequada começa na seleção dos equipamentos, e segue com a elaboração dos documentos obrigatórios, treinamento dos operadores e definição do processo de educação permanente, definição da sistemática de registros de resultados provisórios, liberação de laudos e comunicação de resultados críticos, além da análise dos controles de qualidade.

Atualmente, estão disponíveis no mercado dispositivos de teste laboratorial remoto específicos para uso hospitalar, os quais permitem a conexão direta com o sistema de informação laboratorial (LIS) e/ou com o sistema de informação hospitalar (HIS), permitindo a rastreabilidade de todo o processo de execução do exame.

Custo ainda é alto

A principal finalidade dos TLRs é a melhoria dos desfechos clínicos dos pacientes, maior satisfação dos mesmos e melhor uso de recursos do sistema de saúde. Sodré diz que os TLRs são, geralmente, mais caros, quando seu custo direto é comparado com o custo dos testes clássicos. “Neste ponto, é necessário enfatizar que isto é real quando a comparação do custo é feita de forma direta para a execução da dosagem. Porém, quando um TLR é usado corretamente, ele tem o potencial de reduzir o custo do sistema, podendo diminuir o tempo de permanência dos pacientes nas unidades de emergência ou hospitais; acelerar tratamentos e condutas que reduzam o dano ao paciente, evitando incapacidades futuras; e contraindicar procedimentos desnecessários.”

Mas vale ressaltar que o TLR, como qualquer outro teste laboratorial, não deve ser usado caso não agregue valor ao sistema. Isto acontece principalmente quando ele é mal indicado, repetido desnecessariamente e/ou quando seu resultado não é confiável. O teste laboratorial remoto para glicose, por exemplo, não deve ser utilizado para fins de diagnóstico de diabetes.

Um dos principais cuidados, segundo Sodré, para garantir a confiabilidade na adoção destes testes, é ter claras as indicações para as quais o teste tem potencial de agregar valor ao sistema de saúde.

Como assegurar a qualidade do exame

Campana, da Dasa, explica que existem diferentes tecnologias e metodologias para TLR. Depende do tipo de exame e do responsável pela análise. “Entre as metodologias de testes rápidos há heterogeneidade de performance, e alguns exames precisam ser repetidos no laboratório. São exames que precisam de resposta rápida e, a depender do exame e do resultado, recomenda-se que o paciente repita o exame no laboratório, normalmente para acompanhamento e definição de conduta. Entretanto, a escolha pela abordagem é sempre do médico solicitante.”

Para garantir que os resultados dos testes rápidos sejam compatíveis ao de testes realizados em laboratórios, o fabricante das tiras reagentes e do dispositivo que realiza a medição deve garantir a acurácia do equipamento seguindo as especificações analíticas determinadas por organismos internacionais, fato que garante a qualidade do resultado obtido no equipamento de TLR para glicose e comparável ao método laboratorial.

Conforme explica a equipe de especialistas do Fleury, segundo o documento ISO 15197:2013, a avaliação mínima deve ser realizada com 100 indivíduos diferentes tomando medidas duplicadas de cada um dos três lotes de reagentes. Para a acurácia analítica, requer que 95% dos resultados estejam dentro do intervalo:

– Os resultados do glicosímetro devem atingir os critérios de acurácia de ± 15 mg/dL dos valores obtidos no laboratório em concentrações de glicemia < 100 mg/dL;

– Os resultados do glicosímetro devem atingir os critérios de acurácia de ± 15% dos valores obtidos em laboratório em concentrações de glicemia ≥ 100 mg/dL.

Para a precisão, o critério de aceitação é que o método apresente um coeficiente de variação menor ou igual a 5%.

Já segundo o Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI), a acurácia analítica requer que:

– 95% das glicemias pelo glicosímetro, quando comparadas com o método laboratorial de referência, precisam estar dentro de uma faixa de ± 12 mg/dL, para concentrações de glicemia < 100 mg/dL, e dentro de uma faixa de ± 12,5%, para os valores de concentração de glicemia ≥ 100 mg/dL.

– 98% dos resultados individuais do glicosímetro devem atender ao critério anterior de precisão, segundo o qual a glicemia pelo glicosímetro pode diferir em ± 15 mg/dL em valores < 75 mg/dL, quando comparada com o teste laboratorial de referência, e até ± 20%, para valores ≥ 75 mg/dL.

Em relação à qualidade e acurácia dos resultados, Sodré destaca o processo de gerenciamento automatizado dos controles de qualidade. “Como os testes laboratoriais remotos, em especial para glicemia capilar, são realizados pela equipe de enfermagem, a obrigatoriedade de realizar os controles internos de qualidade e sua análise automática facilita muito a garantia da qualidade, pois o gerenciamento automatizado permite a programação do bloqueio dos equipamentos caso o controle interno de qualidade não tenha sido realizado na periodicidade indicada e/ou esteja fora da faixa aceitável.

Caso não haja uma integração entre a gestão dos testes rápidos e os sistemas laboratoriais, podem ocorrer problemas de gestão da qualidade, de gerenciamento de insumos e de assessoria médica. Segundo a equipe do Fleury, a ausência do laboratório na gestão dos testes remotos dificulta a identificação de possíveis erros analíticos e retarda a implantação de ações para eliminar suas causas. “O laboratório possui a experiência para realizar a validação, controle interno e externo, avaliação dos resultados e de interferentes, bem como a forma como monitorar os possíveis desvios nas fases pré-analítica, analítica e pós-analítica.”

Entre os problemas mais comuns, o mais frequente é a baixa confiabilidade nos resultados e/ou indicação inadequada para a realização do exame. “Nestes cenários, o TLR não agrega nenhum valor ao sistema, de fato ele apenas eleva o custo. Já o problema mais grave que pode acontecer é um desfecho clínico negativo secundário a uma indicação desnecessária de tratamento, procedimento e/ou uma outra tomada de decisão equivocada a partir de um resultado errôneo de um TLR”, ressalta Sodré.

* Dr. Álvaro Pulchinelli Jr; Dr. Gustavo Loureiro e Dr. Nairo Sumita – assessores médicos em bioquímica clínica do Fleury Medicina e Saúde, e Dra. Katia Regina César, coordenadora Técnica de Controle de Qualidade e Point of Care do Fleury Medicina e Saúde.

Fonte: Labnetwork