Sangue Oculto nas Fezes e o câncer de Colorretal

Sangue Oculto nas Fezes e o câncer de Colorretal

Parte dos tumores deste tipo de câncer inicia-se a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso.

O câncer colorretal diz respeito ao crescimento desordenado de células na região do intestino grosso (o cólon) e no reto. Como a maioria dos cânceres, se tratado precocemente, é curável, pois não há a propensão de não ter se espalhado para outros órgãos.

Portanto, recomenda-se atenção a sintomas como mudança no hábito intestinal, desconforto abdominal com gases ou cólicas, sangramento nas fezes, entre outros fatores.

Idade acima de 50 anos, história familiar de câncer colorretal, história pessoal da doença (já ter tido câncer de ovário, útero ou mama), além de obesidade e inatividade física são algumas condições de risco à doença.

A tecnologia avançou muito nesse sentido, provendo exames não invasivos e com índices de diagnósticos muito mais precisos. No artigo que segue, é possível compreender mais sobre esta evolução.

Métodos de triagem não invasivos ajudam no diagnóstico precoce
A determinação de sangue oculto nas fezes é um método eficaz de triagem, não invasivo ao paciente e de menor custo. A determinação da hemoglobina em amostras de fezes é empregada nestes exames.  A hemoglobina é uma metaloproteína de ferro e está presente nas hemácias que são componentes do sangue, que circulam dentro dos vasos sanguíneos com a função de transportar oxigênio entre os pulmões e os tecidos.

As lesões no cólon e reto podem acarretar o extravasamento do sangue para as fezes e aparecimento da hemoglobina nesse tipo de amostra.  Geralmente, a quantidade de sangue será pequena, na escala de ng/mL ou µg/g, não podendo ser detectada a olho nu. Por esta razão, diz-se “sangue oculto”. Quando o sangue puder ser detectado visualmente nas fezes, recomenda-se ir imediatamente ao médico.

Evolução dos métodos de triagem e diagnóstico
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que pessoas acima de 50 anos devem realizar o exame de sangue oculto nas fezes. Para resultados reagentes (positivos), o paciente deve ser encaminhado para colonoscopia ou retossigmoidoscopia que são os exames confirmatórios, entretanto, complexos, invasivos e de alto custo.

É notável a evolução dos produtos para determinação de sangue oculto nas fezes. Durante muito tempo, os utilizados para este fim empregavam o método guaiáco, que tem a sigla gFOBT. Este método se baseia na oxidação do ácido guaiacônico, catalisado pela ação da peroxidase. Para este teste, é necessário que o paciente realize dieta restritiva de alguns alimentos durante três dias, antes da realização da coleta de amostra.

Mais recentemente, produtos com método imunológico, que tem a sigla iFOBT, têm sido empregados para a determinação de sangue oculto nas fezes. Estes produtos utilizam anticorpos específicos anti-hemoglobina humana, o que faz com que possam ser utilizados sem a necessidade de dieta restritiva. A utilização destes anticorpos específicos garante a ausência de reação cruzada com outras hemoglobinas de origem animal, melhorando a capacidade do teste de reconhecer especificamente a hemoglobina humana.

Entre os métodos imunológicos para pesquisa de sangue oculto nas fezes estão os testes rápidos, que empregam metodologia imunocromatográfica e apresentam resultado em até 30 minutos.

A Labtest disponibiliza em seu portfólio o teste rápido Sangue Oculto iFOBT, que emprega anticorpos monoclonais específicos anti-hemoglobina humana, o que garante a alta especificidade. Esse reagente tem sensibilidade metodológica de 0,04 µg/mL ou 40 ng/mL detectando a presença de hemoglobina nas fezes a partir desta concentração.

Além da avaliação deste produto com amostras de fezes, estudos evidenciaram que a verificação da recuperação do valor especificado de sensibilidade metodológica em amostras artificiais poderia sofrer interferência da composição da matriz do tampão, assim como a da origem da fonte de hemoglobina utilizada.

O produto Sangue Oculto iFOBT é composto por placa de reação (cassete) e tampão, e apresenta resultados após 5 minutos. Ele está disponível em kit para realização de 20 testes.

Fonte: Labtest

Bactérias do intestino podem ser usadas para prever ocorrência de câncer colorretal

Bactérias do intestino podem ser usadas para prever ocorrência de câncer colorretal

Estudo identifica uma assinatura de 16 espécies microbianas capaz de predizer o câncer colorretal; resultados podem contribuir para criar exame preditivo válido para populações com diferentes culturas alimentares.

O microbioma, conjunto de microrganismos presentes no intestino, pode ser usado para prever a ocorrência do câncer colorretal  – o segundo tipo de tumor mais frequente em mulheres e o terceiro entre os homens.

Uma pesquisa feita por uma equipe internacional, com participação brasileira, identificou padrões no microbioma intestinal – que independem da cultura alimentar das populações estudadas – e detectou associação entre alterações nesse padrão e a ocorrência de câncer colorretal. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de exames não invasivos capazes de prever a ocorrência da doença.

O estudo, publicado nesta segunda-feira (01/04) na revista Nature Medicine, tem como primeiro autor Andrew Maltez Thomas, doutor em Bioinformática pela Universidade de São Paulo (USP), e teve apoio da FAPESP por meio de uma Bolsa de Pesquisa no Exterior, realizada na Universidade de Trento, na Itália.

Os pesquisadores combinaram análise de metagenômica, bioinformática e aprendizagem de máquina (com uso de inteligência artificial) para correlacionar a ocorrência do câncer colorretal com dados do microbioma de 969 pessoas da Alemanha, França, Itália, China, Japão, Canadá e Estados Unidos. Trata-se de um dos maiores e mais variados estudos sobre o tema.

Os resultados não só estabelecem conjuntos de microrganismos associados ao câncer colorretal em todas as populações estudadas, mas também indicam assinaturas no metabolismo microbiano (padrão de metabólitos produzidos pelos microrganismos) que também têm poder de prever a ocorrência da doença.

A análise rendeu ainda outros dois achados importantes. Um deles se refere a maior prevalência de bactérias comumente encontradas na boca e nas vias aéreas no intestino de pacientes com câncer colorretal. A outra descoberta indica a associação entre a doença e a presença de uma enzima microbiana que degrada a colina, um nutriente que faz parte do complexo B de vitaminas.

No estudo, pacientes com câncer colorretal apresentaram maior presença de bactérias da espécie Fusobacterium nucleatum em comparação com indivíduos saudáveis. Essa bactéria normalmente habita regiões da boca. Era esperado, até então, que o ambiente ácido do estômago fosse fatal para tais microrganismos.

“Há um aporte maior de espécies orais indo para o intestino em pacientes com câncer colorretal. Talvez essa migração cause inflamações no intestino, originando o tumor. No entanto, não sabemos ainda o real motivo de elas se transportarem para o intestino. Sabemos apenas que há uma associação entre a sua presença no intestino e o câncer colorretal. É algo que ainda precisa ser melhor entendido”, disse Thomas.

A detecção de maior abundância do gene da enzima microbiana colina-trimetil-liase (cutC) nas amostras fecais dos pacientes com câncer mostra uma possível ligação entre a microbiota e os resultados de estudos anteriores sobre a relação da doença com uma alimentação rica em gordura.

“Essa enzima degrada a colina, metabólito presente em dietas com altas concentrações de carne vermelha e de outros alimentos gordurosos. Após degradar a colina ela libera acetaldeído, uma conhecida substância carcinogênica”, disse Thomas.

No estudo, os pesquisadores analisaram dados sobre a composição e a abundância de todas as bactérias encontradas nas 969 amostras fecais. Para obter um método de análise mais simples, que possa ser usado amplamente em clínicas e hospitais, os pesquisadores conseguiram selecionar as bactérias com maior peso na análise.

“Com 16 espécies, obtivemos resultados comparáveis às análises feitas com todas as espécies. É um passo, portanto, na direção de se ter uma ferramenta diagnóstica simples, sem precisar sequenciar toda a microbiota e sem deixar de ter a precisão necessária”, disse Thomas.

Causa ou consequência

A relação entre microbiota do intestino e saúde humana é uma área de pesquisa que tem crescido, sobretudo nos últimos 10 anos. O novo estudo, no entanto, segue um conceito inovador de utilização de bactérias como marcadores de desenvolvimento de uma doença.

“O mais comum é buscar marcadores associados diretamente a células tumorais. Em nosso trabalho, o conceito é outro. A análise é feita a partir de alterações de um conjunto relativamente pequeno de bactérias dentro de um espectro de centenas de bactérias que estão no intestino e que podem indicar uma doença”, disse Emmanuel Dias-Neto, do Centro Internacional de Pesquisas (Cipe) no A.C.Camargo Cancer Center, também autor do artigo.

Com a análise de sequências de DNA obtidas da microbiota é possível descobrir quais bactérias estão presentes na microbiota de cada amostra, além de identificar a quantidade de cada uma das bactérias e variantes do genoma desses microrganismos que podem estar relacionadas com diferentes desfechos – como, por exemplo, a ocorrência ou risco aumentado de câncer colorretal.

No entanto, é preciso destacar que o estudo não revelou que uma microbiota alterada causa o câncer colorretal.

“Foi detectada uma associação, o que não implica necessariamente uma relação causal. A pergunta que fica é: são essas determinadas bactérias que estão provocando o câncer ou é o câncer que cria um ambiente diferente no duto colorretal e, assim, faz com que certas bactérias sejam favorecidas em relação a outras? Ainda não temos essa resposta, que será fundamental para que os resultados deste artigo possam futuramente ajudar no desenvolvimento de terapias para o tratamento do câncer colorretal”, disse João Carlos Setubal, coordenador do Programa Interunidades de Pós-Graduação em Bioinformática da USP e outro autor do artigo. Setubal e Dias-Neto orientaram o doutorado de Thomas.

Análise computacional

Segundo os pesquisadores, esta é talvez a maior análise sobre câncer colorretal com dados de amostras fecais e com populações tão diversas. A equipe de pesquisadores analisou os dados de cinco estudos públicos com dados de outros dois estudos realizados pelos pesquisadores na Universidade de Trento.

Com as informações obtidas nos sete estudos, foi possível identificar enzimas, bactérias e como a microbiota é capaz de predizer a presença do câncer colorretal. Os dados de outros dois estudos, com mais 200 amostras, foram usados para validar os achados.

“O sequenciamento de DNA das amostras – cuja análise exige distinguir entre DNA da microbiota e DNA humano – foi uma forma de identificar e quantificar as espécies de microrganismos e seus genes presentes nessas amostras. Extraímos o DNA das amostras fecais e o sequenciamos. Depois, com métodos computacionais, analisamos os dados. Conseguimos identificar e quantificar quais espécies estavam presentes e qual era a abundância dos genes”, disse Thomas.

Por serem dados oriundos de estudos diferentes, os pesquisadores usaram métodos estatísticos sofisticados para analisá-los em conjunto.

“Empregamos análises estatísticas que são usadas para fazer meta-análise, e também foram utilizadas técnicas de aprendizado de máquina para compreendermos o quão preditivos são os resultados”, disse Thomas.

Além de validar os dados, o grupo de Nicola Segata, da Universidade de Trento e líder do projeto, teve seus resultados reforçados por outro estudo realizado no European Molecular Biology Laboratory (EMBL), com sede na Alemanha. Os cientistas do EMBL também estudaram a relação entre microbioma e câncer e tiveram artigo publicado na mesma edição da Nature Medicine.

“Ao longo da preparação dos artigos, trocamos dados e informações com o outro grupo, numa parceria que se mostrou muito importante para reforçar nossos achados. Apesar de usarmos técnicas de aprendizagem de máquina e métodos estatísticos diferentes chegamos ao mesmo resultado: que o microbioma intestinal é capaz de predizer a presença de câncer colorretal em diferentes populações e estudos”, disse Thomas. Com informações da Fapesp.

Fonte: Labnetwork
Publicado em:  02/04/2019