Urocultura no Diagnóstico de Infecções do Trato Urinário (ITU)

Urocultura no Diagnóstico de Infecções do Trato Urinário (ITU)

Estima-se que aproximadamente 10% da população feminina tenha pelo menos um episódio de ITU ao longo da vida e a cultura de urina é considerada o método laboratorial de referência para o diagnóstico. A urocultura é uma técnica quantitativa e o diagnóstico é baseado no número de unidades formadoras de colônias/mL de urina (UFC/mL).

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU)

As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as doenças infecciosas mais comuns na prática clínica, ficando atrás apenas das infecções do trato respiratório. Acometem principalmente crianças até 12 anos, adultos jovens sexualmente ativos, na sua maioria mulheres, e idosos. No meio hospitalar são consideradas as principais infecções nosocomiais em todo o mundo. São caracterizadas pela presença de microrganismos no trato urinário, normalmente acompanhadas de resposta inflamatória aguda e sintomática.

A uretra une a região interna e externa do sistema urinário, tendo maior contato com microrganismos, por isso, a inflamação usualmente se inicia nesse local. As mulheres têm maior frequência de infecções por possuírem a uretra mais curta em relação à masculina e mais próxima ao ânus. Por esse motivo, mulheres são cinquenta vezes mais propensas a desenvolverem ITU quando comparadas aos homens.

As crianças apresentam uma taxa elevada de ITU devido a anormalidades anatômicas ou funcionais do aparelho urinário. E em idosos, a incidência elevada está relacionada a doenças concomitantes, alterações morfológicas e funcionais da bexiga e a frequente hospitalização com ou sem o uso de sonda vesical.

AS SÍNDROMES MAIS FREQUENTES INCLUEM:

Cistite
A popular infecção urinária, ocorre quando bactérias que habitam a região perineal invadem a bexiga, ascendendo da uretra, e se multiplicam. Mais comum em mulheres sexualmente ativas, devido características anatômicas que favorecem a incidência e são classificadas como infecção não complicadas. Em homens, frequentemente classificada como infecção complicada, resulta de infecção ascendente da uretra ou próstata ou é secundária à instrumentação uretral.

Pielonefrite:
É a infecção que envolve os rins e a pelve renal, geralmente associada a sintomas sistêmicos, como a febre. Em 95% dos casos, a ascensão de bactérias é a causa que aumenta muito quando o peristaltismo uretral é inibido. Rara em homens, está associada a defeitos funcionais ou anatômicos do trato urinário. Em mulheres, pode ocorrer mesmo sem alterações evidentes. É comum em crianças e gestantes após cateterismo vesical.

Bacteriúria assintomática:
É definida como a presença de bactérias na urina na ausência de sintomas. Tem maior significado clínico em gestantes, indivíduos em uso de dispositivos ou submetidos a procedimentos invasivos no trato urinário e crianças com refluxo vesicouretral.

Uretrite:
É uma inflamação ou infecção da uretra com consequente surgimento de secreção e sintomas. Pode ser provocada por bactérias, vírus, traumas e agentes químicos. A maior parte das uretrites é ocasionada por patógenos causadores das ISTs. Podem ser classificadas como uretrites gonocócicas e não gonocócicas.

PRINCIPAIS PATÓGENOS:

Os principais agentes das ITU são geralmente limitados aos componentes da própria microbiota intestinal do paciente. Entre os bacilos Gram-negativos, a maioria é causada por Escherichia coli em aproximadamente 70% a 90% dos casos e, em menor frequência, por Proteus mirabilis, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter spp e Pseudomonas aeruginosa. Entre os micro-organismos Gram-positivos, destacam-se, em relação à frequência, Enterococcus spp e Staphylococcus saprophyticus.

UROCULTURA

A urocultura é uma técnica quantitativa e, tradicionalmente, o diagnóstico é baseado no número de unidades formadas de colônias/ml de urina (UFC/mL). É o exame mais solicitado em laboratório de microbiologia clínica.

É importante salientar que o EAS (urina tipo I) é um exame que ajuda muito no diagnóstico das ITU, porém, ele é muito inespecífico e sozinho não proporciona um diagnóstico preciso. Com o isolamento do microrganismo em meio de cultura, é possível observar os seguintes parâmetros: odor de crescimento, morfologia e pigmentação das colônias e, em especial, o resultado das provas bioquímicas.

Principais objetivos da urocultura
– Suspeita de infecção do trato urinário
– Controle da eficácia do tratamento com antimicrobianos
– Pacientes assintomáticos ou com sintomas subclínicos com elevado risco de desenvolvimento de ITU, como pacientes sedados (com sonda uretral) e imunssuprimidos.
– Exames de pré-natal (buscando, principalmente o Streptococcus agalactiae – importante causador de infecções neonatais).

Amostra
A coleta da urina deve ser feita, preferencialmente, na primeira urina matinal, desprezando-se o primeiro jato e colhendo-se o jato médio, com uma antissepsia anterior, com água e sabão. Essa medida reduz o risco de contaminação da urina com bactérias presentes na microbiota genital.

Após a coleta, a urina deve ser processada em até 2 horas, caso esteja em temperatura ambiente. Caso seja refrigerada (2-8º C), pode ser processada em até 24 horas.

Procedimento
Para realizar a cultura, temos métodos diferentes de cultivo:

– Técnica pour-plate, em que o meio é preparado e, antes de solidificar, coloca-se a urina do paciente. Após isso, a placa é incubada e verifica-se o crescimento ou não da bactéria.

– Lamino-cultivo – mergulha-se a lâmina dentro do frasco de urina, colocando-a sobre a superfície do meio e incubar.

– Semeadura semi-quantitativa em placa – certamente é a técnica mais empregada, em que homogeiniza-se a urina e, com auxílio de alças calibradas (0,01 ou 0,001 mL), realiza-se o esgotamento do material em uma linha centra, fazendo estrias com auxílio da própria alça. Incubar e analisar o isolamento.

MEIOS DE CULTURA

Em urocultura, pelos achados epidemiológicos, em que 70% das ITU são ocasionadas por enterobactérias, é preconizado usar meios seletivos para os Gram-negativas. Logo, uma opção é o ágar MacConkey, seletivo para bactérias Gram-negativas. O ágar cystine lactose electrolyte deficient (CLED) é o meio classicamente usado na maioria dos laboratórios brasileiros, pois permite o crescimento de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas.
 ágar MacConkey

Os meios com substratos cromogênicos têm sido amplamente utilizados para urocultura. Têm como vantagem a identificação presuntiva dos principais gêneros e espécies associados à ITU, além de caracterizar mais facilmente culturas polimicrobianas, reduzindo etapas no processo de identificação.

Interpretação do crescimento
É importante que o crescimento demonstre isolamento bacteriano, evidenciando-se apenas um tipo morfológico de colônia. As ITU não ocorrem por associação de patógenos, usualmente. Logo, aparecimento de 2 ou 3 tipos distintos de colônias sugere contaminação da amostra.

 

Com o crescimento e isolamento bacteriano podemos observar outros aspectos, como forma e consistência da colônia, odor pós-crescimento, coloração da colônia, alteração de cor do meio, hemólise, entre outros. Todos esses fatores contribuem para um pressuposto diagnóstico da espécie. O diagnóstico final é viável após realização das provas bioquímicas.

 

Em relação ao aspecto quantitativo, a presença de 100.000 UFC/mL de urina, somado à piúria, é sugestivo de ITU. Quando temos uma quantidade inferior, deve-se ter cuidado ao interpretar o caso, pois se pode tratar de um caso de bacteriúria, com elevação da microbiota na urina. Logo, os dados da cultura quantitativa, do exame de urina rotina e os dados clínicos devem ser correlacionados, para chegar a um diagnóstico.

 

Uma prova bioquímica que merece destaque, em termos práticos, é a prova do Citrato de Simmons, que serve de parâmetro para diferenciação de Escherichia sp para Klebsiella sp. A diferenciação é de extrema importância ao médico que irá conduzir à terapêutica, pois se sabe que a Klebsiella sp tem capacidade de desenvolver resistência antimicrobiana via produção de β-lactamase, o que demanda medicamentos mais específicos, como carbapenêmicos e inibidores de β-lactamase. Para averiguar essa situação, realiza-se o antibiograma, usando-se de artifícios para verificar se a cepa produz ou não a β-lactamase.

Fonte: Kasvi

Métodos Laboratoriais para Diagnóstico da COVID-19

Métodos Laboratoriais para Diagnóstico da COVID-19

Uma das grandes estratégias para o enfrentamento da pandemia de COVID-19, já empregada com sucesso por alguns países, é baseada na testagem laboratorial em massa da população. Dessa maneira, conseguimos diagnosticar os indivíduos agudamente infectados (sintomática ou assintomaticamente), auxiliando, assim na tomada de decisão para o imediato isolamento social dos pacientes e de seus contactantes diretos, a fim de interromper o ciclo natural de transmissão da doença.

Atualmente no mercado de diagnóstico existe uma série de testes disponíveis para o diagnóstico da COVID-19, várias dúvidas podem surgir a respeito de qual teste seria o mais adequado e indicado e quais os significados dos termos técnicos utilizados. Trataremos nesse boletim de alguns métodos de diagnóstico para o Covid no atual momento, bem como algumas novidades.

RT-PCR

RT-PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em tempo real precedida de transcrição reversa) é considerado a metodologia “padrão-ouro” no diagnóstico da COVID-19, cuja confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada.

Por ser um teste que detecta o material genético do vírus, é necessário que o vírus esteja presente no material testado durante a coleta. Com isso a indicação para realização da coleta preferencial é entre o intervalo de 3° e 4° dia até o 10° dia de doença. Trata-se de um teste para determinação da doença ativamente, não sendo útil para diagnosticar casos prévios da doença.

Apesar de ser considerada metodologia “padrão-ouro” para diagnóstico da COVID-19, a técnica de RT-PCR apresenta algumas limitações: o material genético do vírus (RNA) é muito lábil e se degrada facilmente, portanto, a coleta e armazenamento da amostra devem ser realizados de forma adequada para minimizar os erros na fase pré-analitica. Também é importante evitar a contaminação dos materiais utilizados no ensaio com RNAses (enzimas capazes de degradar o RNA). Ainda vale ressaltar que a sensibilidade desse teste depende do tipo de amostra, conforme demonstrado por Wang e colaboradores (Figura 1).

Gráfico sensibilidade

Detecção de Antígenos (Covid-Ag)

Esse teste, assim como o PCR é baseado na detecção de partes do vírus SARS-CoV-2, portanto é indicado para auxiliar no diagnóstico inicial da infeção, não sendo recomendado para diagnóstico de infecção prévia.

Apresenta como principal vantagem a fácil execução do teste, bem como resultado em pouquíssimo tempo (menos de 30 minutos). No entanto o antígeno possui sensibilidade inferior ao RT-PCR, principalmente em indivíduos assintomáticos com cargas virais mais baixas. Já pacientes com carga viral elevada (que costuma ocorrer na fase pré-sintomática, 1-3 dias antes dos sintomas, e na fase sintomática inicial, até o 5°-7° dia da doença) a sensibilidade é superior a 90% quanto comparado ao teste de RT-PCR, por isso a recomendação para realização do teste é entre o 3° e 7° da doença.

De forma geral, esses testes apresentam um bom desempenho analítico quando comparados com o RT-PCR. Apresentam uma sensibilidade menor que o RT-PCR, enquanto sua especificidade é alta, próxima dos 100%, o que faz com que esses ensaios possuam um grande potencial de aplicabilidade clínico-diagnóstica. Sua sensibilidade parece ter uma relação direta com a carga viral do indivíduo, ou seja, na medida em que a carga viral é elevada, sua sensibilidade também aumenta.

A detecção do Antígeno pode ser realizada por metodologias diferentes dentre elas a imunocromatografia (vulgarmente conhecida como “teste rápido”) e a Fluorescência no qual a detecção ocorre após excitação dos anticorpos marcados pelo fluoróforo, apresentando maior sensibilidade e especificidade, além disso, trata-se de um teste automatizado e quantitativo. Dentre as amostras que podem ser utilizadas estão o swab nasofaringe e nasal.

Os ensaios antigênicos podem auxiliar, em conjunto com dados clínico-epidemiológicos e de outros exames complementares, no diagnóstico precoce da Covid-19, bem como na decisão para isolamento social dos casos positivos, já que seu valor preditivo positivo é alto em comunidade de alta prevalência da doença.

Detecção de Anticorpo (Anti-Covid IgG e IgM)

Esses testes são baseados na resposta do organismo a infecção pelo vírus do COVID-19. Após o contato com o vírus o paciente produz uma serie de substâncias na tentativa de conter a infecção, dentre ela estão principalmente os anticorpos (Imunoglobulinas) das classes IgM e IgG, sendo a detecção de IgM associado à exposição recente, enquanto a IgG a uma exposição há mais tempo, porém no caso do COVID-19 isso não é regra, como em outras doenças, ainda são necessários estudos sobre a soro-conversão em pacientes com COVID-19.

Esses anticorpos começam a ser produzidos a partir do 7° dia da doença e passam a ter concentrações detectáveis confiáveis a partir do 14° dia, sendo, portanto indicados principalmente para saber se houve contato com o vírus previamente. Como todo exame sorológico, resultado negativo ou positivo devem ser confirmados por outras metodologias.

Esses testes podem ser realizados por diversas metodologias como fluorescência, quimiluminescência, ELISA e a mais amplamente utilizada Imunocromatografia (“teste rápido”).

Gráfico - Sars Cov 2 ECO

A Centerlab há 40 anos no mercado sempre em parceria com os maiores e melhores fornecedores do país possui amplo portfólio de testes para auxiliar no diagnóstico do COVID-19 para as diversas etapas da doença, com a detecção precoce ou infecção prévia da doença. Dentre os testes podemos destacar: PCR-RT, Detecção do Antígeno Viral por Imunocromatografia e Fluorescência e detecção de Anticorpos por Imunocromatografia ou Fluorescência.

 

Novidades e Lançamentos

 

Referência:

Labtest lança teste de biologia molecular para COVID-19


http://ecodiagnostica.com.br/wp-content/uploads/2020/04/flyer-sars-PCR-042020.pdf
https://pebmed.com.br/covid-19-o-teste-de-antigeno-pode-ser-uma-boa-alternativa-ao-ensaio-molecular-rt-pcr/
https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/70-pcr-rt-para-coronavirus
http://ecodiagnostica.com.br/wp-content/uploads/2020/04/flyer-covid-Ag.pdf

Diagnóstico IN VITRO: uma introdução a resposta imunológica

Diagnóstico IN VITRO: uma introdução a resposta imunológica

Foto retirada do site da Labtest

Graciane R. S. Fonseca* e Bárbara P. de Morais**
*Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia (CDICT)
** Especialista de produtos da Labtest

A ciência da Imunologia está presente na humanidade desde séculos antes de Cristo e deriva do conhecimento de que pessoas sobreviviam a doenças infecciosas comuns do passado e, raramente, padeciam da mesma patologia novamente. Atualmente, o estudo das moléculas, células, órgãos e sistemas responsáveis pelo reconhecimento e trato de materiais estranhos ao corpo humano é chamado de Imunologia. O sistema imune tem como função, além de proteger o corpo de agentes infecciosos, reconhecer e responder a antígenos estranhos e defender o organismo contra o desenvolvimento de tumores.

A primeira linha de defesa: pele e mucosas

Mas não é porque o corpo humano possui um sistema altamente preparado para o combate, que a entrada do patógeno invasor será fácil. Para isso, ele precisará romper a primeira linha de defesa do organismo formada pela pele e mucosas. É nessas superfícies, essencialmente, que ocorre o primeiro contato do patógeno com o corpo.

As secreções também são importantes: o muco aderido à região nasofaríngea retém micro-organismos, que podem ser expelidos por tosse ou espirro. Outras secreções, como as produzidas na eliminação dos resíduos líquidos e sólidos (processo urinário e gastrointestinal), também são importantes na remoção física de potenciais patógenos. Além disso, as lágrimas e a saliva possuem a habilidade física para “lavar” potenciais patógenos e contêm substâncias quimicamente capazes de proteger o organismo, como a lisozima (bactericida) e a Imunoglobulina A (IgA).

A segunda linha de defesa: imunidade natural

Caso o patógeno estranho consiga atravessar a primeira linha de defesa, entrará em ação a imunidade inata (natural), caracterizada por mecanismos não específicos celulares (mastócitos, neutrófilos e macrófagos) e humorais (lisozima, interferon e complementos). Apesar da falta de especificidade, os componentes celulares são essenciais, pois são responsáveis pela imunidade natural contra micro-organismos do ambiente. O componente humoral (fluido) em maior quantidade são as proteínas do complemento, que também conta com lisozimas e interferon, às vezes, chamados de antibióticos naturais. Dá-se o nome de interferon a uma família de proteínas produzidas rapidamente por várias células em resposta a uma infecção viral. Sua função é bloquear a replicação do vírus em outras células.

A terceira linha de defesa: imunidade adquirida

A terceira linha de defesa do organismo é chamada imunidade adaptativa ou adquirida. Ela envolve mecanismos que permitem reconhecer, memorizar e responder a um estímulo específico, um antígeno. Tal imunidade conduz à eliminação do micro-organismo e recuperação da doença, frequentemente, conferindo ao indivíduo uma memória imunológica específica. Essa condição permite que o indivíduo responda mais rápida e efetivamente, quando ocorre uma reinfecção com o mesmo micro-organismo. Assim como a imunidade natural, a imunidade adquirida possui componentes celulares e humorais (fluidos). Seu componente celular majoritário são os linfócitos e seu componente humoral majoritário são os anticorpos.

Os componentes humorais da imunidade adquirida irão mediar a imunidade humoral, definida pelo reconhecimento de substâncias estranhas e subsequente produção de anticorpos contra essas substâncias. A imunidade mediada por anticorpos pode ser adquirida se os anticorpos forem formados pelo indivíduo (imunidade ativa) ou recebidos prontos de outra fonte (imunidade passiva).

Os tipos de imunidade adquirida

A imunidade passiva pode ser adquirida naturalmente pelo feto através da transferência de anticorpos maternos, durante os últimos 3 meses de gestação. Após o nascimento, o leite materno (especialmente o colostro) também é responsável por essa transferência. Contudo, a imunidade adquirida passivamente é temporária e, para ter proteção duradoura, a imunidade ativa do indivíduo deve ocorrer. A imunidade passiva artificial é alcançada pela infusão de soro ou plasma contendo altas concentrações de anticorpos ou linfócitos de um indivíduo ativamente imunizado. A imunidade passiva via anticorpos pré-formados no soro de outro fornece proteção imediata, porém temporária, aos micro-organismos.

A imunidade ativa pode ser adquirida pela exposição e resposta natural a uma infecção (imunidade ativa natural) ou pela injeção intencional de um antígeno no organismo (imunidade ativa artificial). Essa última, denominada vacinação, é um método efetivo de estimular a produção de anticorpos de memória, sem contrair a doença. Já abordamos este tema no artigo Dia Nacional da Vacinação e o perigo das fake news.

O imunógeno utilizado na imunização pode consistir de suspensões de células ou vírus vivos enfraquecidos ou atenuados, células ou vírus mortos, ou substâncias extraídas deles. O material selecionado precisa estimular a produção de anticorpos, sem causar sintomas clínicos da doença, e resultar em uma memória antigênica permanente.

Figura1
Figura 1. Tabela de comparação entre os tipos de imunidade adquirida

 

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Os antígenos e as classes de imunoglobulinas (Ig´s)

Substâncias estranhas podem ser antigênicas, quando sua membrana ou componentes moleculares contém estruturas reconhecidas como estranhas pelo sistema imune. Essas estruturas são chamadas determinantes antigênicos ou epítopos.

Um epítopo, como parte de um antígeno, reage especificamente com um anticorpo ou um receptor do linfócito T. Quimicamente, antígenos ou imunógenos são moléculas orgânicas grandes, geralmente proteínas ou polissacarídeos, raramente lipídeos, ou combinações de outras classes bioquímicas (glicoproteínas, por exemplo).

Os fatores importantes para que uma molécula funcione como antígeno são: baixa degradabilidade, alto peso molecular, estabilidade estrutural, complexidade elevada e, principalmente, ser reconhecida como estranha pelo organismo. Proteínas são excelentes antígenos, devido ao seu elevado peso molecular e a sua complexidade estrutural. Já os lipídeos não são tão bons, pois são relativamente simples e sua estrutura é pouco estável. Contudo, quando ligados a proteínas ou polissacarídeos, podem funcionar como antígenos. Ácidos nucleicos também não são bons antígenos, devido a sua simplicidade, flexibilidade molecular e rápida degradação. Os carboidratos (polissacarídeos) são muito pequenos para funcionar como antígenos.

Já os anticorpos são proteínas específicas classificadas como imunoglobulinas (Ig). Podem ser encontrados no plasma sanguíneo e em vários outros fluidos do corpo (lágrimas, saliva, colostro). Sua função primária na defesa do organismo é se ligar ao antígeno, o que pode ser suficiente para neutralizar toxinas bacterianas e algumas viroses. No caso de antígenos muito grandes (por exemplo, uma bactéria), o anticorpo precisa interagir com outro agente efetivo (por exemplo, complementos), para que a resposta seja ativa.

Nos mamíferos, cinco classes de imunoglobulinas estão presentes: IgM, IgG, IgA, IgD e IgE. A Imunoglobulina M corresponde a 10% do total de Ig’s e é altamente confinada ao espaço intracelular, por ser muito grande. É uma molécula que possui cinco cadeias pesadas individuais, de 65 kDa cada. Seu peso molecular total chega a 900 kDa. Esse anticorpo é produzido prematuramente em uma resposta imunológica, na fase aguda da doença, e está confinado ao sangue. Em humanos, a IgM é encontrada em menores concentrações que a IgG ou a IgA. Sua concentração aparece aumentada em doenças infecciosas, desordens do colágeno ou desordens hematológicas.

A imunoglobulina que está em maior quantidade no soro é a IgG, entre 70 e 75% do total de Ig’s. A IgG se difunde facilmente para o espaço extravascular, neutralizando toxinas e se ligando a micro-organismos nesses espaços. A IgG é produzida mais tardiamente na resposta imunológica, na fase convalescente ou crônica da doença. Quando esses complexos são formados, o sistema complementar é ativado. Além disso, a IgG tem a capacidade de atravessar a placenta. Seu peso molecular é de cerca de 150 kDa e sua concentração aumenta em doenças infecciosas, desordens do colágeno ou desordens hematológicas.

A Imunoglobulina A representa de 15 a 20% do total de Ig’s circulantes. É predominante nas secreções, como lágrimas, saliva, leite e fluidos intestinais e, por isso, tem papel crucial na proteção de superfícies do corpo contra micro-organismos invasores. Além das condições acima, a IgA também pode estar aumentada em doenças do fígado.

A Imunoglobulina D está presente em quantidades muito pequenas no plasma, correspondendo a menos de 1% do total de Ig’s. A IgD é extremamente suscetível a proteólise e é primariamente encontrada na superfície dos linfócitos B em associação com a IgM.

Por fim, a Imunoglobulina E é encontrada em quantidades traço no plasma de indivíduos que não estão sendo parasitados. Seu peso molecular é de 188 kDa. A IgE tem papel crucial na mediação de alguns tipos de reações de hipersensibilidade (alergias) e é geralmente responsável pela imunidade do indivíduo contra parasitas invasores.

Figura 2Figura 2. Esquema representativo da estrutura das Imunoglobulinas

 

Os anticorpos IgG, IgD e IgE ocorrem somente na forma de monômeros. O IgA ocorre tanto na forma monomérica como dimérica e o IgM é encontrado na forma de um pentâmero de cinco subunidades ligadas entre si. As diferenças observadas entre as diferentes classes de anticorpos indicam que eles podem executar diferentes funções. Contudo, a função primária de qualquer anticorpo é se ligar ao seu antígeno específico e assim proteger o organismo.

Referências
– TURGEON M.L. Immunology & Serology in Laboratory Medicine. Elsevier. 2014, 5 edição

– CRUVINEL, Wilson de Melo et al . Sistema imunitário: Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. Rev. Bras. Reumatol.,  São Paulo ,  v. 50, n. 4, p. 434-447,  Aug.  2010 .   Disponível em  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000400008&lng=en&nrm=iso>. accessado em 30 de Abril.  2020.  https://doi.org/10.1590/S0482-50042010000400008.

– MESQUITA JUNIOR, Danilo et al . Sistema imunitário – parte II: fundamentos da resposta imunológica mediada por linfócitos T e B. Rev. Bras. Reumatol.,  São Paulo ,  v. 50, n. 5, p. 552-580,  Oct.  2010 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000500008&lng=en&nrm=iso>. accessado em 30 de Abril.  2020.  https://doi.org/10.1590/S0482-50042010000500008.

– SOUZA, Alexandre Wagner Silva de et al . Sistema imunitário: parte III. O delicado equilíbrio do sistema imunológico entre os pólos de tolerância e autoimunidade. Rev. Bras. Reumatol.,  São Paulo ,  v. 50, n. 6, p. 665-679,  Dec.  2010 .   Disponível em  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042010000600007&lng=en&nrm=iso>. accessado em 30 de Abril.  2020.  https://doi.org/10.1590/S0482-50042010000600007.

– ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv.. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

Fonte: Labtest

Teste molecular rápido apoia o diagnóstico do coronavírus

Teste molecular rápido apoia o diagnóstico do coronavírus

Já passa de 361 o número de mortos por coronavírus na China, com mais de 17,2 mil casos confirmados naquele país. No Brasil, cresce o temor de uma epidemia e já há 16 casos suspeitos sendo avaliados, em 6 estados. Os números mudam a cada instante. Este novo vírus pertence a uma cepa desconhecida do coronavírus, uma família de patógenos que abrange desde simples resfriados até a Sars (síndrome respiratória aguda grave), que causou centenas de mortes na China entre 2002 e 2003.

O contágio ocorre pelo ar e os sintomas incluem infecções das vias aéreas superiores, semelhantes ao resfriado (coriza, febre e dificuldade respiratória), até pneumonia e insuficiência respiratória grave. Enquanto não há casos confirmados no Brasil, cresce a importância de tomar os cuidados para evitar a transmissão e, sobretudo, de obter o diagnóstico rápido, imprescindível para diminuir a letalidade das doenças, especialmente neste caso, em que o vírus pode causar quadros muito graves. Nesse sentido, os testes moleculares de diagnóstico rápido, que indicam o resultado em até uma hora, são um trunfo para a equipe médica tomar as melhores decisões para o paciente.

Diagnóstico rápido salva vidas ? Seguindo este conceito, a bioMérieux, líder mundial em diagnóstico in vitro, disponibiliza no Brasil a tecnologia do Diagnóstico Sindrômico com FilmArray, sistema exclusivo capaz de detectar, em apenas uma hora, dezenas de microrganismos, vírus, bactérias, fungos e protozoários, entre eles os causadores da Sepse, do H1N1 e de diversas doenças respiratórias e gastrointestinais, além de sepse, meningite e encefalite.

O FilmArray Respiratory Panel, por exemplo, abrange 20 vírus e bactérias respiratórias. Isso significa que, ao fazer uma varredura nesses patógenos, que normalmente infectam o trato respiratório superior, o sistema irá indicar se a infecção investigada é causada por algum deles. Neste caso, uma coinfecção com o novo coronavírus seria muito improvável, o que já indica, por exclusão, alternativas de tratamento para a equipe médica.

Na hipótese de o resultado ser negativo para qualquer um deles, se o paciente apresenta sintomas de infecção do trato respiratório, aí a probabilidade de coronavírus aumenta consideravelmente. Neste momento de alto estresse e ansiedade com o risco do novo coronavírus, a utilização de testes sindrômicos, que podem identificar até mais do que 20 patógenos dentre os mais comuns causadores das ITRs é uma importante aliada, mesmo sem o poder de identificar especificamente o novo coronavírus.

A tecnologia, que já está sendo utilizada no País, foi desenvolvida pela BioFire, empresa do grupo bioMérieux. O equipamento tem aprovação dos órgãos competentes – ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no Brasil, e FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos. A abordagem sindrômica com a tecnologia FilmArray é um agrupamento amplo, baseado em sintomas, de prováveis patógenos em um único teste molecular rápido que maximiza a chance de obtenção da resposta correta em um período de tempo clinicamente relevante. A disponibilidade dos testes FilmArray levam a resultados mais rápidos, melhorando a administração de antimicrobianos e antivirais, detecção e rastreabilidade de surtos e investigação de patógenos desconhecidos.

Fonte: Labornews
Publicado em: 05/02/2020

Sífilis

A situação da sífilis no Brasil não é diferente da de outros países. O número de casos da infecção é preocupante e precisa ser controlada.

A taxa de detecção aumentou de 59,1 casos por 100.000 habitantes, de 2017, para 75,8 casos em 2018. Ano passado, a taxa de detecção de sífilis em gestantes foi de 21,4/1.000 nascidos vivos, a taxa de incidência de sífilis congênita foi de 9,0/1.000 nascidos vivos a e taxa de mortalidade por sífilis congênita foi de 8,2/100.000 nascidos vivos.

Mapa Sífilis Foto Site da Eco Diagnóstica

Como é possível o aumento de uma doença tão antiga, de diagnóstico tão fácil e tratamento barato? Como é possível que uma infecção facilmente detectável, cujo tratamento é simples atingir um número grande de pessoas e crianças no Brasil?

Em 2018, foram notificados 158.051 casos de sífilis adquirida, 62.599 casos de sífilis em gestantes, 26.219 casos de sífilis congênita com 241 óbitos por sífilis congênita.

De 2017 para 2018, houve aumento de 5,2% no número de notificações de sífilis congênita no Brasil. Em 2018, houve 25.889 (98,4%) casos de sífilis congênita em neonatos (até 28 dias de vida), dos quais 25.456 (96,8%) foram diagnosticados na primeira semana de vida.

É possível detectar a doença com um teste rápido de sangue. No caso de mulheres grávidas, se o tratamento for seguido no início, as chances de infecção do bebê são mínimas.

Um obstáculo ao tratamento adequado da sífilis é a resistência dos homens em relação ao tema, negando-se a comparecer às consultas para receber tanto o diagnóstico quanto o tratamento adequado. Para que a doença seja erradicada com sucesso, mesmo em gestantes, precisam ser medicados tanto a mulher quanto todos os seus parceiros sexuais.

Outros dois entraves significativos: o primeiro é que se houver atrasos longos nas doses do tratamento ele se torna ineficaz. O segundo é que, se a mulher voltar a praticar sexo inseguro com um parceiro infectado, voltará a contrair a sífilis.

Nos últimos dez anos, no Brasil, o coeficiente de mortalidade infantil por sífilis passou de 1,9/100.000 nascidos vivos em 2008 para 8,2 em 2018. Em 2017, o coeficiente de mortalidade foi de 7,6/100.000 nascidos vivos, o que representa um aumento de 8,5% em relação a 2018.

A sífilis pode ser transmitida ao bebê a partir da 9ª semana de gravidez, embora a transmissão seja mais frequente entre a 16ª e a 28ª semanas.

Os efeitos em bebês são ainda mais catastróficos: malformações, microcefalia, comprometimento do sistema nervoso, sequelas na visão, nos músculos, coração e fígado, até aborto ou morte ao nascer.

Nas orientações para a prevenção, a recomendação é que no caso de mulheres grávidas, o exame para sífilis seja realizado antes de engravidar, como parte das consultas de rotina. Assim como o pré-natal do parceiro.

Fonte: Eco Diagnóstica