Autor: Pedro Thadeu Rocha Salles
A hemoglobina é uma proteína globular presente nos eritrócitos (glóbulos vermelhos), sendo responsável pela coloração vermelha do sangue. Sua principal função é o transporte de gases pelo organismo, captando oxigênio nos pulmões e distribuindo-o para os tecidos, além de remover o dióxido de carbono das células e levá-lo de volta aos pulmões para ser eliminado.
A hemoglobina é composta por quatro subunidades, cada uma formada por uma cadeia polipeptídica (globina) e um grupo heme, que contém um átomo de ferro. Esse ferro é essencial para a ligação e o transporte do oxigênio.
A hemoglobina A (HbA) é a fração predominante em adultos saudáveis, representando aproximadamente 95% a 97% da hemoglobina total. Dentro da HbA, existem diferentes frações:
– HbA – Representa cerca de 90% da HbA e não está ligada a carboidratos.
– HbA₁ – Corresponde a 5% a 7% da HbA e está ligada a carboidratos, sendo denominada hemoglobina glicada (Ghb), importante para o monitoramento do controle glicêmico.
– HbA₂ – Responde por aproximadamente 2% da hemoglobina total e contém cadeias delta (δ) em vez de beta (β).
A fração HbA tem grande importância clínica, pois suas subfrações são usadas no diagnóstico e acompanhamento de distúrbios metabólicos, como a diabetes mellitus. Entre essas subfrações, destacam-se:
– A1ab: Faz parte da hemoglobina glicada HbA e inclui hemoglobinas modificadas por ligações com diferentes carboidratos. A HbA1b, por exemplo, está associada a carboidratos de estrutura ainda não completamente identificada.
– La1c (Lábil): É a forma instável da hemoglobina glicada. Ela se forma quando a glicose se liga ao grupo Nterminal da valina na cadeia beta da hemoglobina adulta (HbA), originando inicialmente uma base de Schiff instável, conhecida como hemoglobina lábil. Essa forma reflete variações agudas da glicose, sendo um estágio transitório antes da conversão para a forma estável. Além disso, a presença da hemoglobina lábil pode atuar como um fator interferente nos resultados da dosagem de HbA1c, impactando a precisão das medições laboratoriais.
– SA1c (Estável): É a forma estável da hemoglobina glicada. Conforme os eritrócitos circulam, a estrutura passa por uma reação chamada rearranjo de Amadori, tornando-se uma cetoamina estável, sendo essa a fração HbA1c, amplamente utilizada no controle da glicemia.
A hemoglobina fetal (HbF) é uma forma especial de hemoglobina predominante em fetos e recém-nascidos. Sua principal função é facilitar a transferência de oxigênio da mãe para o bebê, pois apresenta uma afinidade maior pelo oxigênio do que a hemoglobina adulta (HbA). Com o crescimento da criança, a HbF é gradualmente substituída pela HbA. No entanto, em algumas condições genéticas e hematológicas,
como talassemias e anemia falciforme, os níveis de HbF podem permanecer elevados.
Devido à sua importância clínica, a hemoglobina e suas frações têm sido amplamente estudadas, resultando no desenvolvimento de diversos métodos laboratoriais para a quantificação da HbA1c, como a Cromatografía Líquida de Alta Performance (HPLC), imunoensaios turbidimétricos e eletroforese, entre outros. A escolha do método ideal deve considerar a relação custo-benefício, bem como suas características analíticas, incluindo o registro junto à ANVISA e a certificação pelo NGSP (National Glycohemoglobin Standardization Program).
Entre os métodos certificados, destacam-se o imunoensaio turbidimétrico e o HPLC por troca catiônica, que oferecem maior precisão e confiabilidade na análise dos níveis de HbA1c.
Embora seja uma técnica amplamente utilizada, a turbidimetria não permite a identificação das diferentes frações da hemoglobina em um único ensaio, fornecendo informações apenas sobre um parâmetro por vez. Isso pode dificultar a análise global e a distinção de interferências entre as frações da hemoglobina, limitando sua aplicação principalmente ao monitoramento geral da glicemia.
Por outro lado, o HPLC oferece uma visão mais abrangente do perfil da hemoglobina, permitindo a detecção de variantes patológicas e suas possíveis interferências, o que o torna uma ferramenta valiosa tanto para o diagnóstico quanto para o monitoramento clínico.
No entanto, estudos que compararam as duas metodologias demonstraram uma boa correlação e concordância entre elas (r = 0,978, p < 0,001), desde que respeitadas suas limitações e considerando exclusivamente a análise da HbA1c. Além disso, não foram observadas diferenças sistemáticas ou proporcionais entre os métodos, reforçando sua aplicabilidade clínica.
Como solução eficiente para automação de exames de HbA1c, o método HPLC se destaca com os modelos HB- 20 e HB-100 da linha Vercentra, fornecidos pela Centerlab. Esses equipamentos oferecem alta produtividade e eficiência, incorporando um método rastreável ao IFCC/NGSP, garantindo a precisão e padronização dos resultados.
Figura 2: HB-20 e HB-100
HB-20
HB-100
Fonte: https://www.centerlab.com/vercentra?_q=vercentra&map=ft
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